ESPERANÇA DESCORADA
A esperança anda descorada.
Muito lívida, porque falta.
A esperança é morta...
E a quem isso importa?
Se tudo o que existe nesse ser triste
é a busca dos sentidos
por sentido inexistente.
Observo e ouço, tateio à escura certeza
de minha gelada solidão, e procuro...
Minha mão desliza em algodão,
mas sinto o gosto amargo da tristeza.
Nas ruas vejo o grito silencioso
dos meus pares, ou que poderiam ser...
Suas risadas são plásticas, tal máscara.
E os gestos são de quem está cansado de viver...
Sinto o vento assoviando em árvores altas,
então percebo que ainda vivo... Vivo?!
Em seguida ouço o canto dos pássaros
costurando audazes, o vento sul.
Cubro o retrato do anjo,
que tem em meu quarto,
com um manto azul,
e beijo seu rosto triste que me fita.
Protege-me, meu anjinho,
com teus olhos lassos...
Guia-me para que eu ache meus passos
Pois, as cordas que me sustentam
nesse mundo
estão cada vez mais frágeis, se partindo...
Meu coração está sangrando outra vez.
Assim, calço os pés nas nuvens
e ergo meu corpo no espaço.
Vou à busca do que meu ser está pedindo,
vou em busca de teu abraço.
Mas, vejo o céu pichado de negro,
tatuando sombras no chão.
Meu corpo tremeu a noite inteira,
a madrugada já cai feito goteira.
E o silêncio grita alto!
Quisera poder de um salto,
unir essa paralela, levantar,
caminhar e te ver chegando pela janela...
Eu correria abrir meu mundo pra ti,
porque eu te amo tanto!
Mas, o sonho é quimera, a esperança é vã.
E a mim só restou-me esse pranto...
Além da espera desesperançada,
crua adoentada, de quem nessa vida...
não passa de um nada!
Tânia Regina Voigt